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terça-feira, janeiro 16, 2007

.quoting

"Depois Carlos, outra vez sério, deu a sua teoria da vida, a teoria definitiva que ele deduzira da experiência e que agora o governava. Era o fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear...
Não se abandonar a uma esperança - nem a um desapontamento. (...)
Ega, em suma, concordava. Do que ele principalmente se convencera, nesses estreitos anos de vida, era da inutilidade de todo o esforço. Não valia a pena dar um passo para alcançar alguma coisa na Terra - porque tudo se resolve em desilusão e poeira.
(...)

(...)

Os dois amigos lançaram o passo, largamente. E Carlos ia dizendo:
- Ao menos assentámos a teoria definitiva da existência. Com efeito, não vale a pena fazer um esforço, correr com ânsia para alguma coisa.
Ega, ao lado, ajuntava, ofegante, atirando as pernas magras:
-Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder...
A lanterna vermelha do amerciano ao longe, no escuro, parara. E foi em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço:
- Ainda o apanhamos!
- Ainda o apanhamos!"

gosto mesmo destes parágrafos finais d' "Os Maias".
Porque nada vale a pena correr e no entanto não sabemos passar pela vida sem ânsias e esperanças.

Porque só sei viver assim.

*